ORIGINAL "DOS DIABOS" JEFFERSON RIB
ORIGINAL "DOS DIABOS" JEFFERSON RIB
Técnica mista
50x70cm
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Há muitas Rosas em Rosa Maria Egipcíaca.
Rosa foi escravizada. Capturada na Costa de Uidá aos seis anos, enfrentou o martírio de transladar o Atlântico amontoada, junto aos seus, como mercadoria, no cárcere de um navio negreiro com destino à colônia portuguesa na América.
Em seu corpo deflagrado por chibatas, hospedou o prazer dos senhores enquanto meretriz em Minas Gerais, onde a religiosidade barroca revestia de falsa moralidade a devassidão secular, e abrigou demônios zelosos pela ordem do templo e tementes aos santos.
Convertida ao catolicismo, despojou-se de vaidades e prazeres carnais. Adorada, adoradora e santa profética, Rosa possuía especial devoção pelos Sagrados de Corações de toda a família de Cristo e era idolatrada pelo mais alto clero carioca, que chegou a nomeá-la “a maior santa do céu” e “Flor do Rio de Janeiro”. Pouco adepta à modéstia, Rosa se reconhecia como, ao mesmo tempo, ama de leite do menino Jesus e a própria esposa da Santíssima Trindade! Dentre as suas incontáveis visões espirituais, previu um devastador dilúvio a submergir Brasil e Portugal, do qual das águas redentoras triunfaria, depois de aguardado regresso (finalmente!), D. Sebastião, pronto a desposar-se de Rosa.
A mando dos Céus, Rosa aprende a ler e escrever e, salvo engano, o primeiro manuscrito assinado por um ex-escravizado no Brasil é de sua autoria. Novamente capturada, atravessa o Atlântico, agora em sentido contrário, em direção ao Tribunal do Santo Ofício de Lisboa. É presa sob acusação de heresia formal. Com sentença indefinida, é ilegalmente explorada pela Santa Inquisição (Rosa já era forra nesta altura) e passa a trabalhar na cozinha da instituição, privada de liberdade até seus últimos dia de vida. Falece de motivos naturais em 1771, aos 52 anos.
Composta por sete obras, “EU SOU DEUS - Rosa Maria Egipcíaca” é uma pequena exposição sobre todas essas Rosas.
Jefferson Rib, ou só Jeff, nasceu no Rio de Janeiro, mas escolheu o Porto como sua nova cidade, onde reside desde 2018. Licenciou-se em Cenografia, mas sempre adorou e trabalhou com designer gráfico. Tem investido na colagem analógica como principal linguagem de criação e, quando trabalha, está sempre a ouvir música ou podcast.