ILUSTRAÇÃO "GISBERTA" JEFFERSON RIB
Gisberta
30cmx40cm
colagem, acrílica e pastel s/ papel
Nasceu no Brasil e mudou-se na década de 1980 para a Europa em busca de uma vida melhor. Após passar por algumas cidades europeias como Barcelona e Paris, mudou-se para o Porto (Portugal), cidade onde viveu até sua morte, com 45 anos. Devido ao seu estado de saúde cada vez mais debilitado, Gis, como era chamada, já não encontrava condições de trabalhar e, sem emprego, instalou-se em um edifício inacabado, abandonado há décadas. A improvisada instalação é descoberta por um grupo de adolescentes e, no decorrer dos seus últimos dez dias de vida, Gis passa a receber a visita de catorze rapazes, entre 12 e 16 anos, que se revezam em agredi-la com chutes, paus e pedras. No dia 22 de fevereiro de 2006, inconsciente, é jogada pelos jovens num poço presente na construção. Ainda estava viva. Morreu afogada. Gisberta Salce Júnior era uma mulher transsexual. E foi assassinada apenas por esse motivo.
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EFÍGIEde Jefferson Rib
No princípio, a carne se fez pintura. No desejo perene da humanidade em aprisionar o tempo, a representação pictórica, na sua preciosa ânsia pelo real, valera-se como instrumento para compor a imagem daqueles representados. Seja nas pinturas que a História nos reservou, seja na massa de metal esculpida em feições humanas, estejam essas num busto em praça pública ou numa moeda, há olhos vultuosos que nos enxergam sob a égide do poder.
Efígie apresenta-se também no desejo de emoldurar personagens e narrativas. Porém, a escolha da colagem como técnica principal para construir esse painel de figuras femininas tensiona a representação imaculada que a ideia de efígie sugere. Neste sentido, os retratos aqui buscam compor, sob a égide da poesia, não suas feições, mas, antes, seus simbolismos. Porque não há memória sem subjetividade. E não há colagem sem subversão.